segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ZÉ PIAU

Era uma vez um quarto cinza, e nesse quarto vivia Zé Piau.
Zé Piau era um cara ranzinza, de cara fechada, não sorria e nem falava, que vivia batendo com a vassoura no vidro da janela toda vez em que alguém o chamava no portão. O que ele conhecia do mundo era apenas o que fazia sombra no chão em que pisava. O que realmente chamava a atenção não era ele ser assim tão pacato, mas sim o fato de ele nunca ter saído de sua casa, ou melhor, de seu quarto. Zé Piau era conhecido por todos mas, não conhecia ninguém, a única coisa que ele guardava para si era sua imagem, pois seus móveis e objetos foram sendo jogados nas pessoas, pela janela, até não sobrar mais nada. As únicas coisas que possuía era ele mesmo e seu segredo... Zé Piau era quadrado. Não quadrado de chato, mas de quadrado mesmo e o que o mantinha feliz era andar pelos cantos da parede, se encaixando pelos lados para ter certeza de que sua casa era quadrada mesmo e bem “angulada”, ou seja, com bom ângulo, mas isso era desculpa, porque na verdade a porta estava trancada e sua janela era redonda e ele não conseguia passar.
Um dia, um passarinho deixou cair um amendoim para dentro de seu quarto, como Zé não comia faz tempo, porque lançou toda a comida nos vizinhos, ele despertou em desejar comer aquele único amendoim, que caíra bem no centro de seu quarto. Mas de tanto andar apenas pela parede (pelos lados), ele adquiriu um medo tenebroso daquele meio em que não pisava jamais. Bem que tentou, mas não conseguiu alcançar a semente e, de tanto Zé Piau bater os pés de raiva no chão, o amendoim entrou por uma rachadura e morou nesse buraquinho no centro do quarto por muito e muito tempo. Os invernos iam e vinham, e ficaram os três a sós no quarto: Zé Piau, a rachadura e o amendoim.
Um belo dia, Zé Piau acordou, rastreou a parede como de costume e sentou em seu canto favorito. Ao olhar para o centro do cômodo, percebeu que de dentro da rachadura saltou uma pipoca, ele ficou muito assustado já que o que havia caído ali não havia sido um milho e sim um amendoim. Foi então que Zé descobriu que sua casa transformava amendoim em pipoca . Foi uma grande descoberta, mas para ninguém ele poderia contar pois não passava pela porta e nem tinha amigos do lado de fora para tirá-lo de lá.
De tanto ficar sozinho, resolveu pegar a pipoca e comê-la, mas teve a idéia de jogá-la de novo na rachadura para ver o que saía. Outro dia, ele acordou e viu um algodão doce, foi então que descobriu que sua casa transformava amendoim em pipoca e depois em algodão-doce, mas outra vez nada poderia fazer porque não passava pela porta e não tinha amigos para tirá-lo de lá. Foi então que Zé Piau morreu sozinho em seu quarto cinza. Um dia veio um passarinho e entrou na casa e o encontrou no centro do quarto, murcho. Zé Piau murchou, murchou como uma flor e ficou menor, o passarinho o pegou e o colocou na rachadura do centro do quaro cinza, depois de um inverno o passarinho voltou para pegar sua conserva e o levou para fora do quarto, porque ele passava pela porta e tinha amigos para mostrar. Enquanto comia Zé Piau, percebeu que o algodão doce que ficara dentro do quarto havia virado uma barra de ouro. Foi então que o passarinho descobriu que a casa transformava algodão-doce em barra de ouro, ficou rico e mobiliou a casa para lá mesmo morar. Um dia teve uma crise de ganância e, pasmado, trancou-se no quarto e de lá não mais saía, para nada e para ninguém, começou até a arremessar coisas para as pessoas irem embora e não pegarem seu tesouro. Foi ficando cada vez mais um ranzinza, de cara fechada, que não sorria, nem falava e que vivia batendo com a vassoura no vidro da janela toda vez em que alguém o chamava no portão. Virou um quadrado com asas, mas que não podia voar pois, não passava pela janela redondinha.
Moral da história: Ame seus amigos, não seja ganancioso e sempre tenha uma cópia da chave de sua casa.