quinta-feira, 25 de junho de 2009

ENTRE CÉUS

Não, ninguém dança entusiasmado
quando ao som da minha Lua
só ecoam os seus gemidos.
Nada além,
ninguém pede que se apague
a chama da vela que à sua face iluminava,
nem tampouco que se fechem
as portas que batem desde que por ti foram abertas.
Tudo caminha com os passos do momento abortado,
seguindo pensamentos inconstantes
sobre o que teria acontecido.
Lado a lado,
lado, um lado.
Bastava-me esse, que eram dois,
um na morte e outro na vida,
morte vivida e vida esquecida
do seu lado do coração.

INSÔNIA

Gira, gira
gira, quarto, gira.
Silêncio.
Que silêncio?
Tantas vozes, tantos rostos
[ pensamentos ].
Para onde foi
aquele cubo branco,
tão vazio e sem encanto...
Gira, gira
tempo, gira,
não se cansa de enganar,
o que faz é maluquice, só me resta sufocar.
Rasga, rasga o meu peito
para esse monstro libertar,
cega-me os olhos
pra eu não mais gritar.
Gira, gira, quarto, gira,
gira monstro, quarto, gira, gira,
gira os meus olhos
para a sua saída.

NADA MAIS

Por hoje não, não vou imitar,
Não vou não sentir a brisa que chega.
Por hoje não, não vou suportar
os seus lindos sorrisos, sem o tal motivo.
Por hoje não, não vou não fugir,
não vou não fingir não me conhecer.
não vou segurar e não vou não gritar
o que sinto aqui.
Por hoje não, não vou escapar, não vou enganar
o inexplicável.
Por hoje não,
não vou mais não sentir,
não vou mais não gritar,
pelo que realmente quero.
E por esse não gritar,
e por esse não sentir,
a brisa então chega, e leva tudo consigo.
Leva o meu momento do não sentir,
leva o meu momento do não gritar
e o que resta, por hoje não,
só por hoje não,
não direi o que fica.

[RE]CRIAÇÕES

Um copo,
lâmpadas,
papéis e rabiscos.
Poesia pintada, tarada,
corpos quentes num mundo frio.
pensamentos que somem no gemido
que aparece entre as sombras siamesas.
Sexo. Queixo. Sexo. Tesão,
olhar que queima a libido
[elixir da criação].
E no soar da chuva, um quadro,
na cama, poesia,
e no quintal: bacia.

ANSEIOS

Duvidar, recuar
avançar e cegar.
Esperar sem alcançar,
alcançar sem desejar chegar.
Chegar e desejar sair,
desejando voltar
para desejar cair,

para levantar e superar.
Enxergar entradas
e ocultar saídas,
Saber gritar, calar,
criar.

[DES]CONSTRUÇÃO

Olhe para além das flores, lá onde você sente que algo vai te pegar. Não feche os olhos, não fuja, não grite tão alto quando nem mesmo você consegue agüentar. Sente que é agora, mas dissimula para ganhar tempo [ou mais coragem]. Por isso chora e ao mesmo tempo sorri, mesmo que um falso sorriso amarelo e amargo, buscando esquecer a tristeza...ou a alegria. Quando o chão é mais visado do que as nuvens e no rosto já não cantam mais poesias, uma luz que existia agora se despede enquanto a sombra passa a guiá-la pelo doloroso caminho.Tudo agora perde a cor, o salgado supera o doce e a angústia molda um sentimento que luta contra a maré. Vazio e calado como o próprio medo de sê-lo e vivê-lo. Tão de perto existe, persiste e insiste em uma bolha viciosa. Sem mais demoras, se o furacão chegasse, eu partiria feliz? Fujo de mim mesmo com medo de me encontrar, depender e aceitar...sempre aceitar.

FRATURANDO O MOMENTO

Vem, escreve em mim as tuas poesias. Desenha em minha alma esses seus sonhos omissos e tão desfigurados. Crava em minha vida uma história bem absurda, esconde nos meus lábios o gosto de tua boca. Dança, gira e canta que eu te guio pelos caminhos imperfeitos. Pinta o seu olhar sereno no meu céu de nuvens turvas, para que assim meus pesadelos sumam entre as cartas do anteontem. Afogue-me em palavras sem sentido e no perfume de seus cabelos. Seja a minha loucura, viva o meu tormento. Olhe além de mim, para o “eu” você, descura um “nós” pendente nas pontas dos pés. Sinta o meu ar na sua saliva, o seu gosto nos meus pulmões e o desejo nos olhares. Quanto menos você sabe, mais martela o pensamento de querer-te. Tudo em mim é você, e tudo em você são outras coisas. Talvez nem existam, assim como eu para você. Mas quando você acordar vem, e escreve em mim as tuas poesias, mesmo assim...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

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