terça-feira, 10 de maio de 2011

Letras.

Havia tempos que eu observava aquele canto entre as madeiras escuras. Suas sombras, teias de aranha e poeira que se assentava nos móveis com a ajuda do vento. Havia tempos em que eu, simples capacho da vida, ficava submisso e a esmo assim como quem nada espera além do óbvio. Mas hoje, mais que observei os móveis, a poeira e as sombras. Uma viagem se fez pelo tempo perdido, que nunca aconteceu ou acontecerá na verdade. Fechando os olhos, em meio a tarde, posso ver aquele torto caminho de pedras e areia, e até aquele montinho de mato ameaçando um verde pálido entre as folhagens secas, no qual se esconde um cachorro imundo que agora se coça com a mesma dignidade de quem possui algo, mesmo que seja uma cólera ou pulgas. Não o culpo, pois é um cachorro imundo de uma imundice não suja, mas de uma imundice ingênua, conquistada sem desejar. É nesse cachorro que penso, pois lá está ele novamente, no mesmo monte de mato, naquele mesmo caminho de pedras e areia que eu avisto toda a tarde quando fecho os olhos, esperando o nada acontecer. E quem diria algo desse canto senão eu, fruto da imaginação do cachorro, que agora me observa junto ao torto caminho de pedras e areia que ele mesmo cavou, para alguém um dia poder reparar naquele verde pálido entre as folhagens secas numa tarde de sol...

domingo, 8 de maio de 2011